Tudo começou uns tempos atrás, quando comecei a ler Os cus de Judas de António Lobo Antunes, entretanto parei e recomecei agora.
Algo me irrita neste livro, o uso impreciso de palavras no intuito de parecer culto, ou de criar sensações.
"Por essa época, eu alimentava a esperança insensata de rodopiar um dia espirais graciosas em torno das hipérboles majestáticas do professor preto [professor de patinagem], vestido de botas brancas e calças cor-de-rosa, deslizando no ruído de roldanas com que sempre imaginei o voo difícil dos anjos de Giotto, a espanejarem nos seus céus bíblicos numa inocência de cordéis."
li, parei, reli e reli...
Não nos questionemos sobre rodopiar espirais, faz o seu sentido. Apenas como é que o professor pode andar em hipérboles num ringue? Não será elipses? E o que significa inocência de cordéis?
Muito mais tarde:
"Não, a sério, a felicidade, esse estado difuso resultante da impossível convergência de paralelas de uma digestão sem azia com o egoísmo satisfeito e sem remorços, continua a parecer-me, a mim, que pertenço à dolorosa classe dos inquietos tristes, eternamente à espera de uma explosão ou de um milagre, quaquer coisa de tão abstracto e estranho como a inocência, a justiça, a honra, conceitos grandiloquentes, profundos e afinal vazios que a família, a escola, a catequese e o Estado [Novo] me haviam solenemente impigido para melhor me domarem, para extinguirem, se assim me posso exprimir, no ovo, os meus desejos de protesto e de revolta."
Porque é que a digestão sem azia e egoísmo satisfeito e sem remorços serão estados paralelos? Aliás nada disto é rectilíneo se me permito fazer as mesmas analogias geométricas...
Algo me irrita neste livro, o uso impreciso de palavras no intuito de parecer culto, ou de criar sensações.
"Por essa época, eu alimentava a esperança insensata de rodopiar um dia espirais graciosas em torno das hipérboles majestáticas do professor preto [professor de patinagem], vestido de botas brancas e calças cor-de-rosa, deslizando no ruído de roldanas com que sempre imaginei o voo difícil dos anjos de Giotto, a espanejarem nos seus céus bíblicos numa inocência de cordéis."
li, parei, reli e reli...
Não nos questionemos sobre rodopiar espirais, faz o seu sentido. Apenas como é que o professor pode andar em hipérboles num ringue? Não será elipses? E o que significa inocência de cordéis?
Muito mais tarde:
"Não, a sério, a felicidade, esse estado difuso resultante da impossível convergência de paralelas de uma digestão sem azia com o egoísmo satisfeito e sem remorços, continua a parecer-me, a mim, que pertenço à dolorosa classe dos inquietos tristes, eternamente à espera de uma explosão ou de um milagre, quaquer coisa de tão abstracto e estranho como a inocência, a justiça, a honra, conceitos grandiloquentes, profundos e afinal vazios que a família, a escola, a catequese e o Estado [Novo] me haviam solenemente impigido para melhor me domarem, para extinguirem, se assim me posso exprimir, no ovo, os meus desejos de protesto e de revolta."
Porque é que a digestão sem azia e egoísmo satisfeito e sem remorços serão estados paralelos? Aliás nada disto é rectilíneo se me permito fazer as mesmas analogias geométricas...
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