Dobrar - Pôr dobrado. Fazer curvar, vergar ou torcer. Voltar. Passar além de. Passar por (para tomar outra direcção). Duplicar. Tornar mais forte, mais intenso, mais activo. Demover, modificar. Induzir. Fazer ceder, obrigar, coagir. Gorjear, cantar. Executar uma dobragem. Conseguir uma volta de avanço sobre alguém. Substituir um actor. Tocar (o sino) a finados. Duplicar-se;Ceder. Dar a volta. Multiplicar-se.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Histórias de cardeais e relógios

Hoje senti-me ignorante por nunca ter lido poemas de António Ramos Rosa. Vale sempre a pena...


Para um Amigo Tenho Sempre  

Para um amigo tenho sempre um relógio
esquecido em qualquer fundo de algibeira.
Mas esse relógio não marca o tempo inútil.
São restos de tabaco e de ternura rápida.
É um arco-íris de sombra, quente e trémulo.
É um copo de vinho com o meu sangue e o sol. 

 António Ramos Rosa


Tu Pensas que os Cardeais

Tu pensas
que os cardeais
não se masturbam,
que não vêem
as telenovelas,
que vêem, quando muito, os filmes de Bergman
e o Evangelho segundo São Mateus de Pasolini.
Não, eles nunca lêem os livros pornográficos
e nunca pensaram em ter amantes.
Eles não conhecem o turbilhão das visões
das figuras eróticas,
eles lêem os exercícios espirituais
de Santo Inácio
e têm o odor da santidade
e irão para o céu porque nunca pecaram,
nunca acariciaram um pénis,
nunca o desejaram túmido e ardente
na sua boca casta.

Ah os cardeais como são exemplares
mesmo quando os espelhos os perseguem
com os membros e órgãos de mulheres
na fulguração da nudez liquida e candente!

Todavia eu conheço a obstinada chama
do desejo,
a sua glauca ondulação,
os seus olhos deslumbrados pela oceânica
vertigem
de um corpo embriagado pela sua simetria
e pela volúvel coerência
dos seus astros dispersos.

Não, eu não creio na inocência imaculada
dos solenes cardeais.
Eu sei que a sua carne é a mesma argila
incandescente e turva
de que o meu corpo frágil é composto.
Eles conhecem o sofrimento de ser duplos,
o vazio do desejo,
a violência nua das imagens monstruosas,
a adolescência do fogo nos labirintos negros.

Mas eu sei que os cardeais não gritam,
nem levantam a voz,
nem atravessam a fronteira do pudor
e adormecem ao rumor das orações.
É esta imagem que eu quero conservar
na religiosa monotonia do meu sono.


António Ramos Rosa

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

sentidos

A minha razão diz-me que ninguém pode ter certezas (o que sendo certo, é uma contradição!). E tem-me dito, ainda que sem certezas claro esta, que a felicidade é um lugar complicado, cheia de fugas, recalcamentos, medo do que os outros pensam, racionalismos financeiros...
Num ano em que provavelmente vou ficar de fora do ensino pela primeira vez, tenho-me sentido o homem mais feliz do mundo (em 90 minutos, de fim de semana em fim de semana). Sabem aquelas merdas, do fazer um filho, plantar uma arvore, escrever um livro? Pois bem, acrescentem-lhe fazer um relato...
(uma amostra: https://www.facebook.com/photo.php?v=469376879825975&set=vb.121618147980403&type=3&theater )

Caro Tiago, é cerrar os dentes e...perguntar ao coração! Ele dar-te-á respostas certas e o caminho a seguir...e depois usa a razão para que não fiques apeado no caminho e de bolsos vazios...  :)

Cara Olga, o outono tem muitas coisas, mesmo com muito frio..Tem AXN, hollywood, gelado frio com compota de tomate, tem pantufas e cafe quente, ...Tambem ha outono em Tenerife?

PS1- O que vou contar vale o que vale, ou seja, não vale muito.. mas uma vez perguntei a um colega la em aveiro...que sentido tem a vida pa? e ele demorou 10 segundos e disse..deixa-te disso, não é pelo sporting ter perdido mais uma vez que isto deixa de ser bonito. Concordei, claro.

PS2- Para a semana há autarquicas. Voces podem votar?

Bjinhos e abraços

terça-feira, 17 de setembro de 2013

May the force be with me...

Por aqui diz-se que o Verão já acabou e eu nem dei conta dele chegar.
Agora dizem-me que é Outono. Outono? Pffff... No passado Domingo, apesar da tarde fantástica a ver todo o tipo de espectáculos num dos famosos parques em Kreuzberg, não conseguia parar de pensar nas luvas que deixei em casa.
Visto-me como se fosse Dezembro e secretamente continuo à espera do Verão.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Em jeito de resposta...

Olga,

Desde que li a tua mensagem, e já lá vai algum tempo, tenho querido responder-te: Sim, estás louca! Sempre foste louca, na verdade.

Nos últimos tempos também tenho pensado na minha vida, no meu percurso. Que farei eu com a minha vida? Qual é a finalidade de todo o percurso que percorri? E se não fosse os dois copos de Alandra que tomei, estaria a escrever estas linhas com o coração na mão.

É estranho, a minha razão diz-me que nada tem valor, ou se preferires, tudo tem o valor que lhe damos.
Caminho incluído. A minha razão diz-me que tudo aquilo que fizemos, tudo aquilo que fomos será apagado com o tempo... que importará experimentar, inovar, amar, rir, ..., se no fim nada existe? Mas o meu coração angustia-se com todos os momentos desperdiçados. (Será que ele pensa a este longo percurso na francofonia?)

A minha razão diz-me que não estou perdido, pois não há nenhum ponto de referência. Mas às vezes um vazio apodera-se do meu peito e me pede âncora. Será isso a vida? Um longo percurso para percebermos que não percebemos nada, nem mesmo a nós próprios; para percebermos que somos eus-paradoxos. Mesmo estas palavras têm sabor a falso...

Casal sentado num banco à borda do lago de Annecy
Annecy, Junho de 2013

A única coisa que te posso dar é um abraço apertado, quando nos virmos.

Contexto: O meu contrato acaba em Dezembro e tenho andado a escrever uma candidatura para uma bolsa. E pergunto a mim mesmo, quero mesmo continuar?